LIÇÃO 6 - OS LIVROS DO PENTATEUCO (com Plano de Aula)


Ao observarmos os livros do Pentateuco, percebemos não só a sua unidade, de que já falamos na lição anterior, mas também vemos como Deus construiu com Sua infinita sabedoria, a estrutura de toda a Bíblia Sagrada, a partir destes livros, que mostram a Sua vontade para com o homem.


INTRODUÇÃO


- O estudo dos livros do Pentateuco mostram que há uma perfeita unidade entre eles e são a demonstração clara de que, no Pentateuco, encontra-se ao alicerce de toda a revelação de Deus que se completaria com o Novo Testamento, que é o fecho natural e inevitável da revelação começada nos livros da Lei.

I. O LIVRO DE GÊNESIS


- O livro de Gênesis é chamado pelos hebreus de "Bereshit", que é a palavra "princípio" com a qual se inicia a narrativa bíblica (Gn.1:1 - " No princípio criou Deus os céus e a terra."). A denominação "Gênesis" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a mensagem deste livro é precisamente a das "origens", das "genealogias" não só do mundo, como também do homem e da nação israelita. A palavra grega "gênesis" quer dizer "origem".

- O livro de Gênesis, efetivamente, pode ser considerado "o livro dos começos", porque é nele que Deus dá notícia ao homem de como tudo começou. Inicia dizendo como foi criado o mundo e, posteriormente, como foi criado o homem. Também indica qual foi a primeira ordenação ética para o comportamento do homem e como, pela desobediência de nossos primeiros pais, entrou o pecado na humanidade, com as suas primeiras conseqüências da desobediência do homem. Mostra-nos como começou a povoação da terra e como foram praticados os primeiros crimes. Em seguida, demonstra-nos qual o foi o primeiro grande juízo sobre a humanidade e como se recomeçou a vida na Terra. Por fim, apresenta-nos como Deus formou o Seu povo, Israel, a partir da chamada de Abrão. É interessante notar que tudo o que começou em Gênesis terá sua concretização no livro do Apocalipse.

- O livro de Gênesis, que tem 50 capítulos, pode ser dividido, basicamente, em duas partes, a saber:

a) 1ª parte - trata da origem do mundo, do homem e da civilização - é a parte do livro que vai do capítulo 1 ao capítulo 11, onde há a narrativa da origem do mundo, do homem e da civilização humana, com o fracasso dos gentios em atender ao chamado de Deus. Esta primeira parte é considerada, por alguns estudiosos da Bíblia, como um retrato da humanidade diante de Deus.
b) 2ª parte - trata da origem de Israel - é a parte do livro que nos mostra a formação de um povo por Deus, diante do fracasso espiritual dos gentios, formação esta que se dá com a chamada de Abrão (que teria seu nome mudado para Abraão) e que envolve a história dos patriarcas, ou seja, dos pais da nação israelita (Abraão, Isaque, Jacó e seus doze filhos). A narrativa encerra-se com a morte de José, com o povo de Israel, então formado por dezenas de pessoas, um verdadeiro clã, habitando o Egito.

- Os hebreus costumam dividir o livro em três partes, cindindo a 2ª parte em duas, uma que trata da vida dos patriarcas (capítulos 12 a 36) e a que trata da vida de José (capítulos 37 até 50). O livro do Gênesis é o primeiro a ser lido durante o ano (segundo o calendário judaico) pelos judeus até os dias de hoje. A leitura é feita em doze semanas, pois o livro tem doze seções a saber: Bereshit (Gn.1:1-6:8), Nôach (Gn.6:9-11:32), Lech Lechá (Gn.12:1-17:27), Vaierá (Gn.18:1-22:24), Chaiê Sara (Gn.23:1-25:18), Toledot (Gn.25:19-28:9), Vaietsê (Gn.28:10-32:3), Vayishlach (Gn.32:4-36:43), Vaieshev (Gn.37:1-40:22), Mikêts (Gn.41:1-44:17), Vayigásh (Gn.44:18-47:27) e Vaichi (Gn.47:28-50:26).

- Outra divisão que se costuma fazer do livro do Gênesis é a chamada divisão temática, segundo a qual o livro de Gênesis é dividida em quatro partes: o livro do princípio (Gn.1-11), o livro da fé (Gn.12-25), o livro da luta (Gn.26-35) e o livro da direção (Gn.36-50).

- A autoria do livro, já dissemos na lição anterior, é de Moisés. Obviamente que os fatos narrados por Moisés lhe são anteriores, mas Moisés os escreveu com base na revelação divina (Cf. Dt.34:10) e, também, em tradições orais obtidas junto aos próprios hebreus (não nos esqueçamos que sua mãe foi a responsável pela sua educação - Cf. Ex.2:9). Moisés também deve ter se utilizado de registros e histórias obtidas junto aos arquivos egípcios, pois também foi criado em toda a ciência daquele povo (Cf. At.7:22). Aliás, algumas vezes, no livro do Gênesis, Moisés diz que se baseia em histórias ou genealogias a que teve acesso, que é o significado da expressão "estas são as gerações", que se vê em Gn.5:1, 6:9, 10:1, 11:10,27, 25:12,19, 36:1,9 e 37:2. Um estudo elaborado por um estudioso, o professor Humberto Casuto, da Universidade de Jerusalém, no livro " La Questione della Genesi" demonstrou, claramente, a unidade do livro de Gênesis, pondo fim às polêmicas trazidas pelos chamados "críticos bíblicos".

- As teorias da "falsamente chamada ciência" (Cf. I Tm.6:20) sempre procuraram desmentir o livro de Gênesis, principalmente no que se refere à narrativa da criação, mas, passados mais de cem anos após o surgimento da teoria da evolução de Charles Darwin, esta teoria encontra-se desacreditada, enquanto que, cada vez mais, as pesquisas confirmam a ordem bíblica da criação(Cf. "Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação", de Ailton Muniz de Carvalho). Os achados arqueológicos, também, têm confirmado as narrativas do livro do Gênesis, em especial, os achados na cidade de Ur dos caldeus e as referentes às confirmatórias de um dilúvio sobre a face da Terra.

OBS:
"Gênesis e seu cumprimento no Novo Testamento - Gênesis revela a história profética da redenção, e o Redentor que virá através da descendência da mulher (3.15), das linhagens de Sete (4.25,26), e de Sem (9.26,27), e da descendência de Abraão (12.3). O NT aplica 12.3 diretamente à provisão da redenção que Deus realizou em Jesus Cristo (Gl.3.16,39). Muitos personagens e eventos de Gênesis são mencionados no NT com relação à fé e à justiça (Rm.4; Hb.11.1-22), ao julgamento divino (Lc.17.26-29,32; 2 Pe 3.6; Jd.7,11a) e à pessoa de Cristo (Mt.1.1; Jo.8.58; Hb.7)."(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.29).

" Cristo Revelado - …O ministério de Jesus está antecipado em Gn.3.15, sugerindo que a 'semente' da mulher que ferirá a cabeça da serpente (Satanás) é Jesus Cristo, a 'posteridade' de Abraão mencionada por Paulo em Gl.3.16. Melquisedeque é o misterioso rei-sacerdote do cap.14. Uma vez que Jesus é rei e também sumo sacerdote, a carta aos Hebreus faz, de forma apropriada, esta identificação (Hb.6.20). A grande revelação de Cristo em Gênesis encontra-se no estabelecimento do concerto de Deus com Abraão nos caps, 15 e 17. Deus fez promessas gloriosas a Abraão, e Jesus é o maior cumprimento destas promessas (…) A dramática história da prontidão de Abraão em sacrificar Isaque segundo a ordem de Deus apresenta uma incrível semelhança com o evento crucial do NT (…) lembra-nos a prontidão de Deus em sacrificar o Seu único Filho pelos pecados de todo o mundo. Por fim, a bênção de Jacó sobre Judá antecipa a vinda de 'Siló', a ser identificado como o Messias. 'E a Ele se congregarão os povos'(49.10). " (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.3).


II. O LIVRO DE ÊXODO

- O livro de Êxodo é chamado pelos hebreus de "Shemot", que é a palavra "nome", com que se inicia a narrativa do livro (Ex.1:1: " Estes são pois os nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa). Alguns hebreus denominam o livro de "We'ele", que significa "estes são". A denominação "Êxodo" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a mensagem principal deste livro é precisamente a da história da libertação do povo de Israel do Egito, ou seja, a sua "saída" do Egito. A palavra grega "êxodo" quer dizer "saída".

- O livro do Êxodo pode, mesmo, ser considerado "o livro da saída", pois boa parte do livro é dedicado a narrar como Deus libertou o Seu povo da escravidão no Egito e, como depois de ter saído da escravidão, recebeu a lei no monte Sinai, lei que representa a saída do povo da dispensação patriarcal para a dispensação da lei, na qual o povo adquire liberdade diante de Deus. No livro do Êxodo, aparece a figura de Moisés, o grande libertador. Após um retrato da escravidão do povo de Israel, o livro narra o nascimento, crescimento e exílio de Moisés, bem como a sua chamada por Deus e seu retorno ao Egito, com a seqüência de todos os fatos que levaram à libertação do povo (as dez pragas, a instituição da páscoa e a passagem milagrosa pelo Mar Vermelho). Em seguida, o povo inicia sua caminhada até o monte Sinai, onde Deus dá os "dez mandamentos"(em hebraico, as "dez palavras") e inicia a revelação de várias leis para o povo, povo que, cedo, começa a murmurar e acaba caindo na idolatria, no episódio do bezerro de ouro. O livro do Êxodo termina com a determinação divina para a construção do tabernáculo e de suas peças. No livro do Êxodo, Deus revela a Sua vontade, o Seu poder e o Seu caráter para o povo que havia escolhido, Israel.

- O livro de Êxodo, que tem 40 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte - trata da opressão de Israel no Egito - nesta primeira parte, narra-se a situação de escravidão do povo de Israel no Egito, o nascimento e chamada de Moisés e o início do processo de libertação do povo, com as nove primeiras pragas. Esta primeira parte vai do capítulo 1 ao capítulo 12.
b) 2ª parte - trata da libertação de Israel - nesta segunda parte, Deus anuncia a décima e última praga, a morte dos primogênitos, institui a páscoa e concede a liberdade para o povo de Israel que acaba se salvando da fúria faraônica passando a seco o Mar Vermelho. Em seguida, inicia sua caminhada pelo deserto, rumo ao monte Sinai, onde Deus iria lhes falar. Neste período, Deus revela a Moisés quais são os Seus propósitos para com Israel.
c) 3ª parte - trata da entrega da lei ao povo - A começar pelos "dez mandamentos"( em hebraico, "dez palavras"), Deus revela Seu caráter e a Sua vontade a Israel, determinando qual deveria ser a conduta do povo que havia separado dos demais povos para servi-lO. Além dos mandamentos e de algumas outras leis importantes, Deus dá a Moisés o modelo do tabernáculo, que foi prontamente construído pelo povo, povo que, entretanto, já demonstrara sua obstinação no episódio do bezerro de ouro. O livro termina com a inauguração do tabernáculo.


- Os hebreus costumam dividir o livro em apenas duas partes: uma que denominam de histórica, que vai do capítulo 1 ao capítulo 19, que conta a história da libertação de Israel e outra chamada de legislativa, que vai do capítulo 20 até o capítulo 40, onde se encontram as primeiras leis e regras determinadas por Deus ao povo de Israel por intermédio de Moisés. O livro de Êxodo é o segundo a ser lido durante o ano (segundo o calendário judaico) e a leitura se faz em onze semanas, pois o livro tem onze seções a saber: Shemot (Ex.1:1-6:1), Vaerá (Ex.6:2-9:35), Bo (Ex.10:1-13:16), Beshalách (Ex.13:17-17:16), Yitró (Ex.18:1-20:26), Mishpatim (Ex.21:1-24:18), Terumá (Ex.25:1-27:19), Tetsavê (Ex.27:20-30:10), Ki Tissá (Ex.30:11-34:35), Vaiac'hel (Ex.35:1-38:20) e Pecudê (Ex.38:21-40:38).

- Outra divisão que se faz do livro do Êxodo leva em conta a localização do povo de Israel durante a narrativa. Assim o livro é dividido em três partes : os hebreus no Egito (Ex.1:1-12:36), os hebreus no deserto (Ex.12:37-18:27) e os hebreus no monte Sinai (Ex.19:1-40:38).

- A autoria do livro é de Moisés, que vivenciou, como ninguém, os episódios narrados no livro do Êxodo(Cf.Ex.17:14; 34:27). O próprio Jesus confirma a autoria do livro como se vê em Mc.7:10). Como sempre, até por causa da relação de milagres que são contados neste livro da Bíblia, não faltaram aqueles que procuraram atacar o livro, sua genuinidade e sua própria unidade. Muitos "críticos" alegaram que o livro teria sido composto já no período dos reis, mas estudos criteriosos e profundos têm mostrado que o ambiente cultural e social mostrado no Êxodo é totalmente incompatível com o período histórico invocado pelos "críticos", a revelar que o livro, realmente, foi escrito durante o período da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. Não bastasse isso, evidências vindas da história e da arqueologia confirmam muitas das afirmações do livro do Êxodo, em especial, a extrema crueldade com que os escravos estrangeiros eram tratados pelos egípcios no período das 18ª e 19ª dinastias, precisamente a época da libertação de Israel do Egito.

OBS:
"O Livro de Êxodo e seu cumprimento no Novo Testamento - A prefiguração da redenção que temos no novo pacto, é evidente em todo o livro de Êxodo. A primeira Páscoa, a travessia do Mar Vermelho e a outorga da lei no monte Sinai são, para o velho concerto, aquilo que a vida, morte e ressurreição de Jesus, e a outorga do Espírito Santo no Pentecoste, são para o novo concerto. Os tipos de Êxodo que prenunciam Cristo e a redenção no NT são: (1) Moisés, (2) a Páscoa, (3) a travessia do mar Vermelho, (4) o maná, (5) a rocha e a água, (6) o Tabernáculo, e (7) o sumo sacerdote. As exigências morais absolutas dos dez mandamentos são repetidas no NT, para os crentes do novo concerto."( BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.116).

"Cristo Revelado - Moisés é um tipo de Cristo, pois ele liberta da escravidão. Arão funciona como um tipo de Jesus assim como o sumo sacerdote (28.1) faz intercessão junto ao altar do incenso (30.1). a Páscoa indica que Jesus é o Cordeiro de Deus que foi oferecido pela nossa redenção (12.1-22). (…). João afirma que Jesus é o Pão da Vida; Moisés fala de duas maneiras do pão de Deus: o maná (16.35) e os pães da proposição (25.30). João nos conta que Jesus é a Luz do Mundo; no tabernáculo, o candelabro serve como fonte de luz permanente (25.31-40)." (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.64).

III. O LIVRO DE LEVÍTICO

- O livro de Levítico é chamado pelos hebreus de "Vayicrá", palavra que significa "e chamou", com que se inicia a narrativa bíblica do texto (Lv.1:1: "E chamou o Senhor a Moisés, e falou com ele da tenda da congregação, dizendo: "), sendo que, na linguagem do Talmude(livro sagrado judaico que reúne toda a tradição oral judaica), é conhecido como "Sefer Torah Cohanim" (Livro da Lei dos Sacerdotes). A denominação "Levítico" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a mensagem principal deste livro é a prescrição de leis e regras que dizem respeito ao ministério sacerdotal, ligado à casa de Arão, que era da tribo de Levi (na verdade, a denominação "levítico" dá a impressão de que todos os levitas eram sacerdotes, o que não é exato). A palavra grega "levítico" quer dizer "referente aos levitas".

- O livro de Levítico é, na verdade, um código de leis para os sacerdotes, regras que Deus determinou a Moisés que fossem observadas em todas as cerimônias e condutas que envolviam o ministério sacerdotal, que há pouco tinha sido instituído com a chamada de Arão e de seus filhos. É a parte do Pentateuco que mais se assemelha a outros livros sagrados da Antigüidade, onde a ritualística e a formalidade eram notas características. Apesar deste conteúdo cerimonial e que parece indicar que o livro não tem aplicabilidade para os nossos dias, o livro de Levítico apresenta-nos a noção de santidade de Deus e, embora fosse destinado precipuamente aos sacerdotes da antiga aliança, é uma prova irrefutável de que Deus é santo e exige que Seu povo seja santo, como se vê claramente em Lv.11:44,45 e 20:7,26. Também é neste livro que se encontra a chamada "regra áurea", que foi considerada um dos pilares de toda a lei pelo próprio Jesus, ou seja, a determinação para que amemos o próximo (Lv.19:18). Por trás deste cerimonial, portanto, temos um sentido profundo e extremamente atual: o da necessidade de o povo de Deus separar-se do mundo e do pecado. 

- O livro de Levítico tem a seguinte ordem de prescrições: holocaustos, ofertas de manjares, sacrifícios, a consagração dos sacerdotes, as leis sobre coisas santas, as leis sobre os animais, as normas sobre a lepra, as imundícias do homem e da mulher, o sacrifício anual no santo dos santos, a lei do sangue, as regras sobre casamento e relações sexuais, as penalidades, as leis a respeito dos sacerdotes, as festividades, o jubileu, o ano sabático, os votos e os dízimos. Além desta parte, o livro também contém a narrativa da consagração de Arão e de seus filhos e a trágica morte de Nadabe e Abiú.

- O livro de Levítico, que tem 27 capítulos, pode ser dividido em duas partes, a saber:

a) 1ª parte - trata de direções para aproximar-se de Deus - é a parte do livro que se preocupa em determinar regras para que o homem possa se aproximar de Deus, através dos holocaustos e dos sacrifícios que cobriam o pecado, que é o que causa a divisão entre Deus e o homem (Cf. Is.59:2). Compreende os capítulos 1 a 16.
b) 2ª parte - trata-se de direções para manter um relacionamento com Deus - é a parte do livro que se preocupa em determinar regras para que o homem possa preservar a comunhão com Deus, através de regras de proibição e de condutas obrigatórias. Compreende os capítulos 17 a 27.

- Os hebreus costumam dividir o livro em quatro partes: as normas referentes aos sacrifícios (Lv.1-7), a narrativa da consagração de Arão e dos sacerdotes (Lv.8-10), normas relativas à pureza dos sacerdotes (Lv.11-16) e o chamado "livro da santidade"(17-27). O livro de Levítico é o terceiro a ser lido durante o ano (segundo o calendário judaico) e sua leitura é feita em dez semanas, pois é dividido em dez seções, a saber: Vayicrá (Lv.1:1-5:26), Tsav (Lv.6:1-8:36), Shemini (Lv.9:1-11:47), Tazría (Lv.12:1-13:59), Metsorá (Lv.14:1-15:33), Acharê (Lv.16:1-18:30), Kedoshim (Lv.19:1-20:27), Emór (Lv.21:1-24:23), Behar (Lv.25:1-26:2) e Bechucotai (Lv.26:3-27:33).

- A autoria do livro é de Moisés. Embora o livro não o mencione vez alguma, o fato é que as leis ali constantes, por trinta e oito vezes, são ditas que foram reveladas por Deus ao próprio Moisés, o que é confirmado, fora do livro de Levítico, quando lemos Ex.40:1-17 e Nm.1:1, que nos dá conta de que as leis mencionadas em Levítico fazem parte da revelação divina a Moisés. Como sempre, os "críticos" procuram negar esta autoria, afirmando que o livro de Levítico teria sido elaborado por volta do século VI aC por sacerdotes e seria a porção mais recente do Pentateuco. Há até quem atribua o "livro da santidade"(a parte final de Levítico) ao profeta Ezequiel. Entretanto, Jesus dá testemunho de que a autoria é de Moisés (Mc.1:44) e, portanto, não há porque crermos nestas especulações. A interpretação que o escritor aos Hebreus dá ao livro de Levítico mostra toda a sua profundidade e todo o seu significado para a Igreja em nossa dispensação.

OBS:
"O Livro de Levítico e seu cumprimento no Novo Testamento - Devido à ênfase redobrada à expiação pelo sangue e à santidade, Levítico tem relevância permanente para os crentes do novo concerto. O NT ensina que o sangue expiador de animais sacrificiais, realçado em Levítico, era 'a sombra dos bens futuros' (Hb.10.1) a indicar o sacrifício, uma vez para sempre, de Cristo, pelo pecado (Hb.9.12). O mandamento bíblico para que o crente seja santo pode ser perfeitamente cumprido pelo crente do novo concerto, através do sangue precioso de Cristo; a chamada do crente é para que ele seja santo em todas as áreas da sua vida ( 1 Pe.1.15). O segundo grande mandamento, conforme Jesus o definiu, deriva de Lv. 19:18: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'(Mt.22.39). (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.184).

"Cristo Revelado - Cristo não é especificamente mencionado em Levítico. Entretanto, o sistema de sacrifícios e o sumo sacerdote no Livro de Levítico são tipos que retratam a obra de Cristo. O Livro de Hebreus descreve Cristo como o sumo sacerdote e usa o texto de Levítico como base para ilustrar sua obra. Alguns usaram formas extremas de alegoria do livro de Levítico a fim de revelar Cristo; entretanto, esse método de interpretação bíblica deve ser cautelosamente usado a fim de garantir que o significado original histórico e cultural sejam preservados. O Livro de Levítico enfoca a vida e o louvor do antigo povo de Israel." (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.110).

IV. O LIVRO DE NÚMEROS

- O livro de Números é chamado pelos hebreus de "Bemidbar", que quer dizer "no deserto", extraído das primeiras palavras da narrativa deste livro (Nm.1:1 : "Falou mais o Senhor a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da congregação, no primeiro dia do mês segundo, no segundo ano da sua saída da terra do Egito, dizendo: "- destaque nosso), ainda que alguns hebreus o denominem de "Vayyedaber", que quer dizer " E disse Ele (o Senhor)" ou, ainda, "Chumash Hapecudim", que quer dizer o Livro dos Censos. A denominação "Números" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a narrativa deste livro dá-se entre dois censos que Moisés mandou fazer no povo de Israel (um no capítulo 1 e outro, no capítulo 26), censos que mostraram que a geração que saiu do Egito pereceu no deserto, salvo Josué, Calebe e Moisés, que morreria pouco depois. A palavra grega "aritmoi", traduzida por Jerônimo na Vulgata Latina por "numeri" significa "números". A expressão grega é criticada, já que os censos são dados considerados secundários na narrativa e o título hebraico é considerado mais adequado, já que se trata da narração das peregrinações do povo no deserto. De qualquer modo, não podemos deixar de observar que os dois recenseamentos revelam o cumprimento da palavra do Senhor e a incredulidade da geração do êxodo, de forma que os dois censos têm um significado muito relevante na própria peregrinação.

- O livro de Números é, precisamente, a narrativa da peregrinação do povo de Israel no deserto desde a inauguração no tabernáculo até a chegada às margens do Jordão, depois dos 38 anos de caminhada após a demonstração de incredulidade que impediu que a geração do êxodo entrasse na Terra Prometida, com exceção de Josué e de Calebe. Conta o primeiro recenseamento, a forma como o povo estava distribuído no deserto, a separação da tribo de Levi para o ministério sacerdotal e do cuidado do tabernáculo, algumas leis a respeito dos sacerdotes, do nazireado e das ofertas dos príncipes, os problemas enfrentados por Moisés por causa da murmuração do povo, inclusive revoltas contra sua autoridade, o episódio dos espias e o fracasso proporcionado pela incredulidade e as campanhas militares contra Basã, os amorreus, Moabe e Midiã, onde se inclui o episódio que envolveu o profeta Balaão, além de leis a respeito da própria divisão territorial da Terra Prometida. A narrativa encerra-se com o povo, já então a segunda geração, às margens do Jordão, pronto a entrar na Terra Prometida, o que, entretanto, não seria feito por Moisés, que, ao contrário de Josué e Calebe, não ingressaria na Palestina.

- O livro de Números, que tem 36 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:
a) 1ª parte - trata da partida de Israel do Monte Sinai - Após ter recebido a lei e construído o tabernáculo, Israel reinicia sua jornada para chegar a Canaã. Envolve a parte que vai de Nm.1:1 até 10:10.
b) 2ª parte - trata da viagem do Monte Sinai até Moabe - Por determinação divina, Israel parte em direção a Canaã, mas passa pela terra de Moabe, uma mera passagem, pois não estava reservada aquela terra para eles. Ao chegar a Cades-Barnéia, é mandado espiar a terra e, apesar de o relato confirmar as promessas de Deus, o povo não creu que pudesse vencê-los e, por causa disto, com exceção de Josué e Calebe, esta geração é condenada a peregrinar no deserto, sendo-lhe proibido ingressar na Terra Prometida. Esta parte envolve a porção de 10:11 até 21:35.
c) 3ª parte - trata da vida de Israel nas planícies de Moabe - Nas planícies de Moabe, após não terem conseguido entrar na Terra Prometida, Israel começa a andar em círculos e ocorrem alguns episódios durante esta peregrinação, como revoltas internas e guerras externas. O povo acaba conquistando os reinos de Seom, amorreu e o de Basã, ali se estabelecendo provisoriamente. A geração incrédula é recolhida a seus pais e Moisés dará as últimas instruções para a conquista, que será levada a efeito por Josué, designado seu sucessor.

- Os hebreus costumam dividir o livro em três partes: a primeira, referente aos últimos acontecimentos ao pé do monte Sinai e a partida dali (1:1-10:10); a segunda, o relato de diversos acontecimentos da vida no deserto (10:11-20:13) e a terceira, os acontecimentos de Cades-Barnéia (20:14-36:13). O livro de Números é o quarto a ser lido (segundo o calendário judaico) pelos judeus e sua leitura dura dez semanas, pois o livro é dividido em dez seções, a saber: Bamidbar (Nm.1:1-4:20), Nassó (Nm.4:21-7:89), Behaalotechá (Nm.8:1-12:15), Shelach (Nm.13:1-15:41), Côrach (Nm.16:1-18:32), Chucát (Nm.19:1-22:1), Balac (Nm.22:2-25:9), Pinechás (Nm.25:10-30:1), Matot (Nm.30:2-32:42), Mas'ê (Nm.33:1-36:13).

- A autoria do livro é de Moisés, conforme se verifica de Nm.33:2. É possível que algumas passagens tenham sido compiladas posteriormente, como a de Nm.21:14-18 e 32:34-42, que revelam um certo anacronismo com o período de escrita do livro. Aliás, Jerônimo, o tradutor das Escrituras para o latim (o autor da Vulgata Latina), defendia a tese de que o Pentateuco foi revisto por Esdras, daí porque a presença de passagens que poderiam não ser de Moisés. Os "críticos", como era de se esperar, não aceitam a autoria de Moisés, mas também não conseguem esclarecer como uma mistura de tantas fontes diferentes, que apontam ser as origens do livro, teriam sido juntadas e quando isto teria acontecido. É o livro onde há mais diferenças entre o texto massorético, o Pentateuco Samaritano e a Septuaginta, mas os manuscritos do livro encontrados no mar Morto mostram que o texto grego é o mais adequado. No livro de Números aprendemos que a libertação do homem por intermédio de Deus teve ter continuidade com a obediência e a fé, sem o que tudo perderemos. Assim como a geração israleita fracassou no intento de entrar na Terra Prometida, por falta de fé, também poderemos fracassar na vida espiritual.

OBS:
"Números e seu cumprimento no Novo Testamento - As murmurações e a incredulidade de Israel são mencionadas como advertências aos crentes do novo concerto ( 1 Co.10.5-11; Hb.3.16-4.6). A gravidade do pecado de Balaão (22-24) e da rebelião de Coré (cap.16) também são mencionados ( 2 Pe 2.15,16; Jd.11, Ap.2.14). Jesus faz referência à serpente de bronze como uma alusão a Ele mesmo ao ser levantado na cruz, de modo que todos os que nEle crêem não pereçam mas tenham a vida eterna ( Jo.3:14-16; ver Nm. 21.7-9). Além disso, Jesus Cristo é comparado com a rocha do deserto, da qual Israel bebeu ( 1 co.10.4) e com o maná celestial que alimentou aquele povo Jo.6.31-33). (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.230).

"Cristo Revelado - Jesus Cristo é retratado em Número como aquele que provê. O apóstolo Paulo escreve sobre Cristo que Ele era a pedra espiritual que seguiu os israleitas pelo deserto e deu-lhes a bebida espiritual ( 1 Co.10.4). (…). A figura messiânica do rei de Israel é profetizada por Balaão em 24.17.(…) A tradição judaica interpretava este verso messianicamente, conforme atestado pelos textos de Qumran. Jesus Cristo é o Messias, de acordo com o testemunho uniforme do NT, e o verdadeiro rei sobre quem Balaão fala." ( BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.141).


V. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO

- O livro de Deuteronômio é chamado pelos hebreus de "Devarim", que significa "palavras", vocábulo com que se inicia a narrativa do livro (Dt.1:1 - "Estas são as palavras que Moisés falou a todo o Israel dalém do Jordão, no deserto, na planície defronte do Mar de Sufe, entre Parã e Tofel, e Labã, e Hazerote, e Di-Zaabe" - destaque nosso), sendo que alguns hebreus o denominam de "Elleh haddevarim", ou seja, "estas são as palavras". A denominação "Deuteronômio" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a narrativa deste livro é a repetição da lei, ou seja, a segunda apresentação solene da lei, por parte de Moisés, ao povo de Israel, pouco antes de sua morte. A palavra grega "Deuteronômio" significa "segunda lei". Há quem critique esta denominação, porque estaria dando a falsa impressão de que teria havido uma segunda lei em Israel ou de que se trataria de uma cópia da lei, algo que poderia ser baseado em Dt.17:18, mas que não tem este sentido, pois o texto fala de uma cópia da lei que deveria estar à disposição do rei. Se, entretanto, entendermos a expressão como a lei pela segunda vez, não vemos porque considerarmos inadequado o título grego dado ao livro.

- O livro de Deuteronômio é, precisamente, a repetição da lei e de todos os eventos mais importantes ocorridos durante a peregrinação de Israel no deserto por parte de Moisés ao povo de Israel, às margens do rio Jordão. É, fundamentalmente, um longo discurso de Moisés em que se recapitula toda a história de Israel desde a libertação do Egito até aquele momento. É uma despedida de Moisés, porque, após este discurso, o grande líder irá cantar um hino, abençoar o povo e subir ao monte Nebo, onde morrerá. Daí porque o livro de Deuteronômio é uma conclusão, uma síntese de todo o Pentateuco, não sendo de se admirar que Jesus o tenha utilizado quando enfrentou o diabo na tentação com as Escrituras. Aliás, os próprios judeus consideram o Deuteronômio como sendo "…o livro mais importante de todo o Pentateuco. Por seu profundo sentido humano, pode comparar-se com a melhor produção profética…" (Meir Matzliah MELAMED. Torá: a Lei de Moisés, p. 502-3).

- O livro de Deuteronômio, que tem 34 capítulos, pode ser dividido em quatro partes, a saber:
a) 1ª parte - o primeiro discurso de Moisés - neste primeiro discurso, Moisés faz ao povo um resumo histórico de toda a peregrinação de Israel - Dt.1:1-4:43.
b) 2ª parte - o segundo discurso de Moisés - neste segundo discurso, Moisés repete a lei, começando pelos dez mandamentos, onde temos a repetição da lei. - Dt.4:44-28:68.
c) 3ª parte - o terceiro discurso de Moisés - neste terceiro discurso, Moisés sela entre Deus e o povo de Israel o chamado "pacto palestino", a aliança em que Israel se compromete a servir a Deus na Terra Prometida - Dt.29:1-30:20.
d) 4ª parte - apêndice histórico - conclusão do livro em que tem as últimas instruções de Moisés, seu cântico, suas bênçãos e a narração da sua morte, muito provavelmente escrita por Josué - Dt.31:1-34:12.


- Os hebreus costumam dividir o livro em quatro partes: o primeiro discurso de Moisés (1:1-4:43), o segundo discurso de Moisés (4:44-26:19), o terceiro e quarto discursos de Moisés (27:1-30:20) e o apêndice narrativo e poético (31:1-34:12). O livro de Deuteronômio é o quinto e último a ser lido durante o ano (segundo o calendário judaico) e sua leitura dura onze semanas, pois o livro é dividido em onze seções, a saber: Devarim (Dt.1:1-3:22), Vaetchanan (Dt.3:23-7:11), Ékev (7:12-11:25), Reê (Dt.11:26-16:17), Shofetim (Dt.16:18-21:9), Ki Tetsê (Dt.21:10-25:19), Ki Tavô (Dt.26:1-29:8), Nitsavim (Dt.29:9-30:20), Vaiêlech (Dt.31:1-30), Haazínu (Dt.32:1-52), Vezot Haberachá (Dt.33:1-34:12). O final da leitura do livro de Deuteronômio encerra a leitura anual da Torá e se dá em meio a uma festividade denominada "Simchat Torah".

- A autoria do livro é de Moisés, como se verifica de Dt.1:1 e 31:24. O próprio Jesus atestou que a autoria do livro é de Moisés (Mt.19:8). Os "críticos", mais uma vez, procuraram negar a autoria mosaica do livro, dizendo que este livro foi elaborado pelos sacerdotes por volta do século VII aC, em pleno período monárquico, e que este livro teria sido o encontrado no tempo do rei Josias (Cf. II Cr.34:8-21), alegando que o estilo literário do livro é muito próximo aos livros dos Reis e ao livro de Jeremias, o que justificaria esta teoria. No entanto, como bem pondera o rabino judeu Meir Matzliah Melamed, "… nenhum dos outros quatro livros do Pentateuco tem a unidade, o estilo e a linguagem do Deuteronômio. Por ele, a crença tradicional atribui este livro a Moisés. As hipóteses dos críticos não invalidam este caráter original. Por esta razão, para o judaísmo fica naturalmente viva a opinião tradicional que atribui o livro a Moisés…" (Torá, p.502-3). Naturalmente que a parte final do livro, mais precisamente o capítulo 34, que fala da morte de Moisés, não foi escrita pelo legislador, mas a tradição judaica considera que o tenha sido pelo seu sucessor, Josué.

- No livro de Deuteronômio, temos o ápice da lei. Moisés não se limitou a repetir as regras e normas que Deus havia revelado ao Seu povo, mas demonstrou qual a finalidade do cumprimento da lei, qual o seu sentido moral. Apontou para a vinda de um outro profeta, trazendo a esperança messiânica, como também deixou regulada a própria monarquia, que ainda nem sequer existia. É o ponto alto do Pentateuco que, assim, se encerra com fecho de ouro.

OBS:
"O Livro de Deuteronômio e seu cumprimento no Novo Testamento - Quando Jesus foi tentado pelo diabo, Ele respondeu, citando trechos de Deuteronômio (Mt.4:4,7,10, cf. Dt.8.3; 6.13,16). Quando perguntaram a Jesus qual era o maior mandamento da lei, Sua resposta veio de Deuteronômio (Mt.22.37; cf. Dt.6.5). Quase cem vezes, os livros do NT citam Deuteronômio, ou a ele aludem. Uma nítida profecia messiânica deste livro (18.15-19) é citada duas vezes em Atos (3.22,23; 7.37). O cunho espiritual de Deuteronômio é fundamental à revelação do NT. " (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.290).

"Cristo Revelado - Moisés foi o primeiro a profetizar a vinda do Messias, um Profeta como o próprio Moisés (18.15). Notadamente, Moisés é a única pessoa com quem Jesus se comparou(…) (Jo.5:46,47). Jesus costumava citar Deuteronômio(…). É muito significativo o fato de Cristo, que era perfeitamente obediente ao Pai, mesmo até a morte, ter usado este livro sobre a obediência para demonstrar a Sua submissão à vontade do Pai. " (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.187).


Colaboração : Dr. Caramuru Afonso Francisco


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