IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS - MINISTÉRIO DO BELÉM                            
ESTUDO PREPARATÓRIO PARA OS PROFESSORES DA ESCOLA DOMINICAL

BELÉM- SEDE  -  SEGUNDO TRIMESTRE DE 2003
TEMA - Visão Panorâmica do Antigo Testamento
COMENTARISTA : Esequias Soares
ESBOÇO Nº 2 -PROFESSOR CARAMURU AFONSO FRANCISCO
LIÇÃO Nº 2 - A FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO (13-03-03)
ìQuando observamos a unidade que existe no Antigo Testamento, uma obra que durou cerca de 1300 anos para ser elaborada, escrita por pessoas de diferentes épocas, ocupações, níveis de erudição e experiências com Deus, não podemos deixar de reconhecer que estamos diante de uma obra divina, que estamos diante da Palavra de Deus.
INTRODUÇÃO
ìO Antigo Testamento foi elaborado durante cerca de 1300 anos, num período que vai desde o período em que Moisés esteve entre os midianitas (quando, segundo a tradição judaica, teria escrito o livro de Jó) ou, mesmo, antes (se o livro de Jó foi escrito por Jó ou por Eliú, como se entende entre alguns estudiosos da Bíblia), isto por volta de 1700 a.C. até cerca de 400 a.C., no reinado de Artaxerxes, quando devem ter sido escritos os livros das Crônicas e o livro de Ester. Seria mais do que natural que, num período de tempo tão extenso, numa reunião de obras feitas pelas mais diferentes pessoas, que se tivesse uma coletânea incongruente, repleta de desacertos e de contradições. No entanto, as Escrituras apresentam-se numa unidade admirável, que só nos permite observar que, realmente, trata-se da Palavra de Deus e que é este mesmo Deus que "vela pela Sua Palavra para a fazer cumprir" (Cf. Jr.1:12).
I  - CÂNON SAGRADO
ìA palavra "cânon" é uma palavra grega que significa "régua de medir", "medida". Era o nome que se dava a um instrumento que servia de medida para determinação da extensão dos objetos. A palavra acabou sendo utilizada pelo estudiosos da Palavra de Deus para determinar a relação das obras que se consideraram inspiradas por Deus e que, portanto, tinham o valor de Palavra de Deus. A relação dos livros da Bíblia, tanto os do Antigo Testamento, quanto os do Novo Testamento, acabaram sendo assim denominados e, por isso, os livros que foram considerados como tendo sido inspirados por Deus foram chamados de "livros canônicos".
ìAo contrário do que se afirma, a canonicidade de um livro da Bíblia não decorre de reuniões realizadas por líderes eclesiásticos e estudiosos das Escrituras, sejam judeus ou cristãos. As próprias Escrituras revelam-nos que os grandes homens de Deus eram, ainda em vida, reconhecidos não só pelo povo de Israel mas até mesmo por nações estrangeiras como sendo pessoas sobre as quais repousava o Espírito do Senhor, seja por seus atos, seja por sinais em que Deus demonstrava estar com a pessoa por Ele escolhida (Ex.11:3; Nm.17:8-10; Js.3:7; Jz.4:4,8; 8:22,23; I Sm.3:20; II Sm.5:1-3; I Rs.3:28; 14:1-3; 18:3,4; II Rs.2:14; 4:9; 19:2; 22:14; Dn.5:10,11; Lc.20:4). Ora, se reconheciam ainda em vida que estas pessoas eram instrumentos na mão de Deus, por que não reconheceriam como inspirados escritos que fossem deixados por estas pessoas?
ìPortanto, ao longo dos anos, além dos escritos de Moisés que se revestiam de autoridade desde a sua elaboração, foram sendo reconhecidos pelo povo de Israel os demais livros que, posteriormente, seriam compilados e reunidos, segundo a tradição judaica, por Esdras, tradição esta que encontra respaldo em inferências bíblicas, já que as Escrituras tratam-no, sobretudo, como um "escriba, hábil na lei de Moisés" (Ed.7:6).
ìUm exemplo de como os livros eram considerados como divinos (para se usar aqui da expressão de Flávio Josefo no texto constante do esboço da lição 1), pouco depois de escritos, em virtude da vida piedosa de seus autores, nós temos em Dn.9:1,2, onde vemos o profeta Daniel iniciando uma oração a Deus com respeito à libertação de seu povo, precisamente porque,  entendeu "pelos livros que o número de anos de que falou o Senhor ao profeta Jeremias (...) era de setenta anos", ou seja, Daniel reconhecia que os escritos das profecias de Jeremias eram a própria Palavra de Deus e isto algumas décadas depois do ministério do profeta.
ìBem se vê, portanto, que a relação dos livros considerados inspirados por Deus e que compõem o Antigo Testamento não é fruto de uma deliberação de uma reunião de lideranças religiosas, mas estas reuniões tão somente solenemente declararam qual era a relação dos livros que o povo já reconhecia como sendo oriundos de registros divinamente inspirados, reconhecimento popular este que era decorrente da própria operação do Espírito Santo na vida destas pessoas.

II  -  O CÂNON JUDAICO E A FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
ìComo já vimos supra, diante do reconhecimento pelo povo de Israel de que alguém se constituía num instrumento nas mãos de Deus, seus escritos foram considerados como inspirados pelo Senhor e, portanto, como fruto da própria revelação divina. Assim, como nos informa o historiador judeu Flávio Josefo, estes registros foram considerados divinos, sendo aceitos como a Palavra de Deus pelo povo israelita. Com a vinda de Esdras para restabelecer a aplicação da lei e do culto a Deus após o cativeiro da Babilônia, houve a organização e compilação de todos estes escritos. Daí porque se considerar, a partir de então, que não haveria outros escritos que tivessem a mesma autoridade, como nos dá conta o próprio Josefo, conforme texto que transcrevemos no esboço da lição nº 1.
ìA relação que teria sido estabelecida no tempo de Esdras envolvia os nossos atuais 39 livros do Antigo Testamento, que, entretanto, eram arranjados de forma diferente pelos judeus, em 24 ou 22 livros (a divisão em 22 livros, mencionada por Flávio Josefo, é um costumeiro arranjo dos livros para que haja uma perfeita correspondência entre as Escrituras e cada uma das letras do alfabeto hebraico). Isto é possível porque os livros correspondentes aos doze profetas menores são apenas um livro no cânon judaico (o livro é denominado de "Dodecapropheton", seja, "Os Doze Profetas" na versão grega da Septuaginta, a tradução das Escrituras hebraicas para o grego, feita no século II a.C.), como também são colocados num só livro os dois livros de Samuel, o mesmo ocorrendo em relação aos dois livros de Reis, aos dois livros das Crônicas e aos livros de Esdras e Neemias. Assim: 39-20=19 e 19+5=24. Na divisão em 22 livros, adotada por Josefo, o livro de Rute está inserido no livro de Juízes e o livro de Lamentações ao de Jeremias.
ìEsta relação dos livros do Antigo Testamento, seguida desde o tempo de Esdras, foi confirmada pelos principais rabinos judeus em Jamnia ou Iavne, que havia se tornado o principal centro de estudos das Escrituras após a destruição do templo de Jerusalém, por volta do ano 90 d.C., reunião que ficou conhecida como sendo o "Concílio Judaico de Iavne". Entretanto, esta reunião apenas confirmou a relação que já era adotada pelos judeus há alguns séculos, não sendo correto afirmar que ali é que foi fixado o cânon judaico. Mais tarde, os rabinos judeus resolveram, também, reduzir a escrito a chamada "lei oral", ou seja, a tradição judaica, o que deu origem ao "Talmude", que é, atualmente, considerado o segundo principal livro do judaísmo, mas, também, ao assim procederem, fizeram questão de , mais uma vez, dizer que estes escritos não tinham o mesmo valor das Escrituras, pois o Talmude teria valor apenas enquanto comentário das próprias Escrituras.
OBS: "… Da reconquista romana da Judéia entre 66 e 70 d.C. resultou grande destruição física e de vidas humanas, milhares de homens foram reduzidos à escravidão e houve amplo confisco de propriedades, mas a reconstrução econômica começou imediatamente e os judeus continuaram a constituir a maior proporção da população da área. (A destruição de Jerusalém não significou o começo de um exílio físico da Terra Santa; a diáspora já era muito antes um aspecto significativo do povo judeu e uma migração decisiva para fora da Palestina ocorreria dois ou três séculos mais tarde por outras razões). (…). A figura eminente do período do após-guerra foi Iochanan ben Zakai, que fugiu de Jerusalém durante o cerco e reuniu, com permissão dos romanos, os sábios e escribas fariseus que tinham sobrevivido à luta. Na cidade de Iavneh, perto da costa da Judéia, foi articulado um plano básico para a sobrevivência judaica. (…). Sob raban(chefe do Sinédrio, observação nossa) Iochanan ben Zakai, e mais tarde, lá para o fim do século I, sob raban Gamaliel II, o Sinédrio (…) em Iavneh fortaleceu um judaísmo rabínico pós-Templo, não hierático (…). Os sábios de Iavneh resumiram os ensinamentos das escolas anteriores de Hilel e Shamai  (…). Eles completaram a canonização das Escrituras (…). O Sinédrio de Iavneh era corte alta, legislativo supremo e assembléia de pares…" (Robert. M. SELTZER. Do período helenístico ao fim da Antigüidade.In: JUDAICA, v.2, p.224-6). Como se observa, Iavneh ou Jamnia era o centro judaico por excelência ao tempo da solene declaração do cânon judaico.
ìA relação reconhecida em Jamnia é a mesma que era seguida nos tempos do ministério de Jesus e o Senhor, durante o Seu ministério, sempre fez questão de demonstrar que as Escrituras tinham origem divina e que tinha vindo a este mundo exatamente para cumpri-las, por serem elas a verdade de Deus. Este testemunho de Jesus e Suas diversas manifestações de reconhecimento da autoridade das Escrituras é plenamente suficiente para que reconheçamos ser o Antigo Testamento, tal qual ele se apresentava no meio do povo judeu, como sendo a Palavra de Deus (Cf. Mt.15:6; Mc.7:13; Jo.10:35). Mas o que Jesus considerava como sendo as Escrituras inspiradas?  "…Quando Jesus acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, desde Abel até Zacarias (Lc.11:51), Ele, de certa forma, delimitou o que considerava ser a extensão dos livros canônicos. O relato da morte de Abel está no primeiro livro, Gênesis; o da morte de Zacarias, se acha em II Crônicas, que é o último livro da disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Assim sendo, é como se Jesus tivesse dito: 'a culpa de vocês está registrada em toda a Bíblia, de Gênesis a Malaquias.'…(Como a Bíblia chegou até nós.www.advir.org.br/adv0e00.html).

III  -  OS LIVROS DEUTEROCANÔNICOS
ìApesar desta segurança que nos traz o cânon judaico, cujo alicerce, vimos, repousa na própria operação do Espírito de Deus confirmando a Sua presença na vida dos escritores de forma inquestionável diante do Seu povo e que acabou sendo autenticada pela obra de Esdras e passada para a posteridade, vemos que há divergência na estrutura do Antigo Testamento entre as igrejas que se dizem cristãs, em especial, entre a Igreja Romana, algumas igrejas orientais e os protestantes.
ìCom efeito, a Igreja Romana adota, desde o Concílio de Trento (1545-1563), no Antigo Testamento uma diferente relação de livros que considera inspirados, os chamados "livros deuterocanônicos" (isto é, livros do "segundo cânon"), a saber: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Baruque (onde foi incluída a Epístola de Jeremias), Sabedoria, Eclesiástico, acréscimos ao livro de Daniel (capítulos 13 e 14) e ao livro de Ester (a partir do versículo 4 do capítulo 10, exclusive). De pronto, vemos que a sua inclusão somente no Concílio de Trento, que foi convocado exatamente para o combate à Reforma Protestante que então se realizava na Europa, é uma demonstração de que estes livros, até então, não desfrutavam na Igreja Romana de reconhecimento como sendo livros inspirados.
ìEstes livros não foram, porém, criados pelos católicos romanos. Faziam parte da Septuaginta, ou seja, a versão grega das Escrituras hebraicas e eram lidos pelos judeus que habitavam fora da Palestina, os chamados "judeus da diáspora" (os "judeus gregos" mencionados no Novo Testamento, cf. Jo.12:20, At.6:1). Até hoje não foram encontrados quaisquer manuscritos destes livros em hebraico, que é a língua dos textos do Antigo Testamento (salvo algumas poucas passagens dos livros de Esdras, Daniel e um versículo em Jeremias, que estão escritos em aramaico), numa demonstração inequívoca de que se tratam de obras elaboradas pelas próprias comunidades judaicas da diáspora, ou seja, depois do período de Artaxerxes, após a compilação de Esdras, o que faz com que não possam, mesmo, ser reconhecidas como inspiradas.
ìApesar de ser da colônia judaica de Alexandria, o grande comentarista das Escrituras, Filo, contemporâneo de Jesus, jamais considerou estas obras, que eram de evidente conhecimento seu (a tradução das Escrituras hebraicas para o deu-se no Egito, muito provavelmente na própria Alexandria, que era o principal centro cultural helenístico não só do Egito mas de todo o mundo, sendo famosa a sua biblioteca), como sendo parte das Escrituras, numa clara demonstração de que o fato de serem estes livros lidos pela comunidade judaica da diáspora, não significa, em absoluto, que fossem considerados livros divinos. O próprio Flávio Josefo menciona estes escritos, mas afirma que são livros que não têm o mesmo valor dos livros considerados divinos, ou seja, os constantes do cânon judaico.
ìMesmo na Igreja Romana, temos o exemplo de Jerônimo, o tradutor das Escrituras para o latim(na versão que ficou conhecida como Vulgata Latina), que, embora tenha traduzido não só os "livros deuterocanônicos" como outros livros que acabaram não sendo incluídos no cânon romano (como II Esdras, por exemplo), fez questão de mantê-los à parte, numa demonstração de que não os considerava como livros inspirados.
ìEntre os manuscritos do Mar Morto, descobertos a partir de 1947, não foi encontrado nem um fragmento, nem um pequeno manuscrito de quaisquer dos livros incluídos no cânon romano no Concílio de Trento, numa clara demonstração de que não tinham qualquer consideração, por parte dos essênios, como sendo livros inspirados. Poderão alguns objetar que esta circunstância é insuficiente, porque apenas quereria mostrar que os essênios não o reconheciam, mas esta objeção não satisfaz, pois todos os livros do cânon judaico, com exceção do livro de Ester, foram encontrados entre os manuscritos. Teria sido isto uma mera coincidência? Ademais, este é mais um fator que se vai acrescentar aos outros que nos permitem concluir que estes livros não são inspirados.
ìNão bastasse estes dados históricos, que confirmam que estes livros JAMAIS foram considerados inspirados, temos também a própria verificação de que estes livros contêm erros doutrinários e históricos, numa demonstração de que não podem, mesmo, ser considerados como tendo origem divina. Vejamos um a um estes livros.
ìTOBIAS - Segundo nos dá conta a introdução da Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, publicação católico-romana, " O livro de Tobias foi escrito pelo ano 200 a.C.. Apesar das aparências, não conta uma história real, pois os acontecimentos aí descritos dificilmente se enquadram na história desse período. O livro pertence ao gênero sapiencial e é uma espécie de romance ou novela, destinado a transmitir um ensinamento" (op.cit., p.528). Ora, são os próprios católicos romanos que afirmam que o livro é uma história de ficção, uma como tantas que temos visto no meio da Igreja, alguns com inegável espiritualidade, como, por exemplo, "O Peregrino", de John Bunyan, mas que não autorizam seja colocada com a mesma autoridade dos livros inspirados. No caso do livro de Tobias, entretanto, não temos a espiritualidade do livro de Bunyan, mas erros históricos e doutrinários que não nos permitem aceitá-lo sequer como livro para nosso enlevo espiritual. aliás, além de se ter uma história fictícia, encontramos alguns graves erros doutrinários. No livro de Tobias, é mencionado um anjo chamado Rafael, que em todas as Escrituras só é encontrado aqui. Apesar de ser chamado de anjo, é mentiroso (Tb.5:4,5) e feiticeiro (Tb.6:1-9). Isto já é o bastante para demonstrar que não se trata de um livro que pertença às Escrituras Sagradas.
ìJUDITE - Segundo o já mencionado comentarista católico-romano, " a grande indiferença que este livro demonstra pela história e geografia indica que seu autor não pretende relatar fatos históricos concretos. Quer apenas compor uma história para encorajar o povo a resistir e lutar." (Bíblia Sagrada. Edição Pastoral, p.544). Temos, portanto, mais uma história fictícia e repleta de erros históricos e geográficos. Começa denominando Nabucodonosor de rei da Assíria e cuja sede seria Nínive (Jt.1:1,7, 2:1,4; 4:1), o que é um rotundo absurdo! Relata também que um general de Nabucodonosor veio atacar os israelitas depois que o povo judeu havia voltado do cativeiro (Jt.5:18-19). Como entender isto, já que foi Nabucodonosor quem destruiu o templo e que o retorno do povo do cativeiro deu-se setenta anos depois, quando já se estava no domínio persa? Erros grosseiros que bem demonstram que o livro não é inspirado.
ìPRIMEIRO LIVRO DOS MACABEUS - É um livro que narra os episódios que envolveram a história judaica entre 175 a 134 a.C., quando os judeus se encontravam sob o domínio dos selêucidas, reis da Síria que sucederam ao general Seleuco, que recebeu o reino após a morte de Alexandre Magno. Portanto, é um livro que foi escrito depois da compilação feita por Esdras e, segundo o critério adotado, não poderia ser considerado como inspirado. É um livro que tem valor histórico, que nos traz informações sobre este período da história de Israel, mas não pode ser considerado inspirado, inclusive porque não foi encontrada cópia alguma deste livro em hebraico, língua em que foram escritos os registros inspirados. Não bastasse isso, é interessante verificar que o livro, mesmo, aponta que apenas se escreveu o que teve interesse. É o que se vê em I Mc..9:22: "… o resto das ações de Judas, suas batalhas e façanhas e sua grandeza não foram escritas, pois seria assunto demais." . Percebe-se, pois, aqui, um nítido propósito humano nos registros, o que o invalida como literatura inspirada.
ìSEGUNDO LIVRO DOS MACABEUS - É um livro que, para começar, ao contrário dos outros livros duplos do Antigo Testamento (Samuel, Reis e Crônicas), não contém uma narrativa que dá continuidade aos eventos históricos do livro primeiro, mas é uma narrativa paralela aos acontecimentos narrados em I Mc.1-7. Esta circunstância já destoa o texto de todas as Escrituras. Trata-se, pois, de um caso de narração paralela, nem sempre congruente e que é, confessadamente, inexata. Sim, por incrível que possa parecer, o escritor, ao término do livro, pede desculpas por eventual erro cometido: "…Por isso, aqui encerro a minha narrativa. Se ficou boa e literariamente agradável, era o que eu queria. Se está fraca e medíocre, é o que fui capaz de fazer. É desagradável beber só vinho ou só água, ao passo que vinho misturado com água é agradável e gostoso. O mesmo acontece numa obra literária, onde o tempero do estilo é um prazer para o ouvido do leitor. E assim termino." (II Mc.13:37-39). Um texto inspirado por Deus iria pedir desculpas ao leitor? Bem se vê que se trata de um livro sem qualquer inspiração. Não bastasse isso, é muito caro aos católicos romanos, porque é o único texto que ampara a idéia de sacrifício pelos mortos, pois em II Mc.12:43-45, Judas mandou que se fizesse um sacrifício pelos pecados de quem já havia morrido, o que, à evidência, contraria completamente a lei de Moisés (embora sirva de base 'bíblica' para as missas de sétimo dia, para a doutrina do purgatório etc.etc.etc.…).
ìSABEDORIA - Livro que foi escrito por volta de 50 a.C., ou seja, também após a compilação feita por Esdras, sendo considerado que foi escrito em Alexandria, em grego, o que já é bastante para não ser considerado inspirado. Trata-se de um livro sapiencial e, por isso, é chamado de "Sabedoria de Salomão", embora seja evidente que sua autoria não foi daquele rei. Ainda que procure se alicerçar nos escritos salomônicos, possui o livro algumas impropriedades. Assim, por exemplo, em Sb.1:4 está escrito; "a sabedoria não entra na alma que pratica o mal, nem habita num corpo que é escravo do pecado", expressão que denota uma idéia da sabedoria como algo espiritual que vem habitar no homem que contrasta claramente com a imagem que Salomão dá à sabedoria em Pv.8 e que denota uma nítida influência da filosofia platônica, muito apreciada e estudada em Alexandria, a demonstrar que a inspiração do livro, à evidência, não é o Senhor, mas as "filosofias e vãs sutilezas" humanas (Cf.Cl.2:8). Em Sb.2:24 é dito que "…pela inveja do diabo, entrou no mundo a morte, que é experimentada por aqueles que pertencem a ele", ensino que discrepa do que dizem as Escrituras, que afirmam que o pecado entrou no mundo pelo homem (Rm.5:12; I Co.15:21; Tg.1:13-15). Por fim, vemos no livro de Sabedoria uma noção dos elementos da natureza, típico pensamento helenístico, que não é reproduzido em quaisquer dos livros considerados canônicos pelos judeus: "…Os elementos da natureza trocavam suas propriedades entre si, da mesma forma que na harpa as notas modificam o desenvolvimento da música, mas conservando sempre o mesmo tom. É o que se pode perceber, olhando o que aconteceu: os seres terrestres se transformavam em aquáticos, e os que nadam saltavam para a terra. Na água, o fogo aumentava mais ainda a sua força, e a água se esquecia do seu poder de apagá-lo. Por outro lado, as chamas não queimavam a carne dos animais que andavam entre elas, e também não derretiam aquele alimento celeste, parecido com gelo e fácil de derreter." (Sb.19:18-21). São palavras em que observamos nítida influência da filosofia grega, em nítido confronto com o restante das Escrituras, onde se verifica apenas a proeminência da figura divina na criação, sem qualquer referência a elementos da natureza ou coisa assim, como se vê, por exemplo, em Gn.1:1, Sl.8:3; Jó 38:4-41, entre outros.
ìECLESIÁSTICO - O nome do livro já explica seu caráter de livro não inspirado, pois foi assim chamado pela Igreja Romana exatamente porque este livro não é aceito pelos judeus. Seu autor teria sido Jesus Ben-Sirac, entre 190 e 180 a.C., mas só se conhece a versão em grego do livro, que seria uma suposta tradução do original nunca encontrado, feita pelo neto de Ben-Sirac. Estes dados corroboram, portanto, sua não inclusão entre os livros inspirados. Mas não é só! O próprio livro apresenta-se como uma literatura que não quer se equiparar às Escrituras Sagradas. É o que se vê no prólogo do livro, "in verbis": "…Por isso meu avô Jesus, depois de se dedicar intensamente à leitura da Lei, dos Profetas e dos outros Livros de nossos antepassados e tendo adquirido um bom domínio sobre eles, decidiu escrever alguma coisa na linha da instrução e sabedoria. Desse modo, os que desejam aprender podem familiarizar-se com isso e progredir sempre mais na conduta segundo a Lei…", ou seja, o próprio neto do autor salienta que o livro é apenas uma literatura de apoio, que não se equipara às Escrituras ! Só isto basta para que não vejamos neste livro qualquer inspiração divina, mas, como se isto fosse pouco, o neto do autor, a exemplo do autor de Segundo Macabeus, pede perdão pelas suas eventuais falhas: "… Vocês, portanto, estão convidados a ler com atenção e benevolência, perdoando se, apesar do esforço, não consegui traduzir bem algumas expressões. De fato, as coisas originalmente em hebraico não têm a mesma força quando traduzidas para outra língua…" Deus se descuidaria em apresentar o original deste texto para evitar confusões na divulgação da Sua Palavra? E, se este descuido fosse possível, por que teria ocorrido apenas com o livro do Eclesiástico e os outros livros incluídos no Concílio de Trento ? Mas não fosse isto, o livro apresenta algumas incongruências inadmissíveis. Em Eclo.3:29b, está escrito que "…a esmola apaga os pecados…", conceito evidentemente contrário ao ensinamento do restante das Escrituras. Em Eclo.7:1, temos a reprodução do dogma da retribuição, que é cabalmente desmentido no livro de Jó :" …não faças o mal e o mal não lhe acontecerá…". Por fim, ao contrário dos ensinamentos do Senhor Jesus (Cf.Lc.9:52-56, 10:25-37; Jo.4), o sábio Jesus Ben-Sira, apresenta um forte preconceito contra os samaritanos, ao dizer: " Há duas nações que eu detesto, e uma terceira que nem sequer é nação: os habitantes da montanha de Seir, os filisteus e o povo idiota que habita em Siquém" (Eclo.50:25,26). Podemos considerar um texto deste como inspirado por Deus?
ìBARUQUE (com a Epístola de Jeremias)- Este livro, de todos os deuterocanônicos, é o que foi mais citado pelos chamados "pais da Igreja", ou seja, os estudiosos das Escrituras e líderes que sucederam aos apóstolos nos primeiros três séculos da história da igreja cristã. De qualquer modo, somente no Concílio de Florença (1431-1439) é que foi considerado como um livro e não como parte do livro do profeta Jeremias. Sua estrutura, entretanto, mostra que é uma reunião de textos bem diferentes, sendo, pois, discutível até se existiu um "livro de Baruque", ainda que não inspirado, ou se temos uma miscelânea de textos: há um texto em prosa de 1:1 até 3:8. Em seguida, inicia-se um texto poético, desconexo com o texto anterior, de 3:9 até 4:4. A seguir, tem-se novo texto em prosa, igualmente sem conexão com os textos anteriores, que vai de 4:5 até 5:9, seguindo-se, então, a chamada Epístola de Jeremias, que é outra obra introduzida no Concílio de Trento e que ficou fazendo parte do livro de Baruque, como sendo seu capítulo 6. Não bastasse isso, apresenta alguns erros históricos. É dito que Baruque teria escrito este livro "…quando estava na Babilônia no sétimo dia do mês no quinto ano da época em que os caldeus tomaram Jerusalém e a incendiaram…" (Ba.1:1). Ora, conforme se vê do livro de Jeremias, Baruque não foi para a Babilônia mas ficou na terra de Judá com Jeremias (Jr.43:3,7). É certo que a tradição judaica indica que Baruque, após a morte do profeta, teria ido para a Babilônia, mas isto não se teria dado antes do quinto ano após a destruição de Jerusalém e, o que é mais grave, quando isto aconteceu já não havia mais povo algum estabelecido naquela cidade, como dá a entender o livro de Baruque (Cf. Ba.1:5-9, que contraria frontalmente Jr.43:5-7). Fora este erro grave, há certas passagens do livro que também são inadmissíveis. Diz Ba.3:4: "…Senhor Todo-Poderoso, Deus de Israel, ouve as preces daqueles que já estão mortos em Israel…". Ora, este texto conflita com o restante das Escrituras, pois como os mortos irão fazer preces a Deus, consoante nos ensina Ecl.9:10 e Is.38:18,19, e, ainda por cima, em favor do que ocorre aqui na Terra? Mas, como sabemos, os mortos não podem comunicar-se com os vivos! (Cf. Is.8:19). Com relação à Epístola de Jeremias, além de não haver qualquer notícia no livro do profeta de que ele tenha escrito uma carta aos cativos que estavam indo para a Babilônia, esta suposta carta contradiz a própria profecia de Jeremias, pois ali se afirma que o cativeiro seria de "sete gerações" (Ba.6:2), quando é sabido que a profecia era de setenta anos, ou seja, uma geração (se levarmos em conta o Sl.90:10) ou quase duas gerações, se considerarmos que uma geração é de quarenta anos, como têm feito os estudiosos da Bíblia. É oportuno observar que a profecia de Jeremias, considerada inspirada por Deus, foi literalmente cumprida nos setenta anos (Cf. II Cr.36:22) e, consoante a regra trazida pelas próprias Escrituras (Dt.18:22), sabemos bem qual é o escrito autêntico e qual é o falso.
ìACRÉSCIMO AO LIVRO DE ESTER - Na Bíblia católico-romana o livro de Ester possui acréscimos no primeiro capítulo (1:1-a - 1-r) e no último capítulo (10:3-a - 3-l), fora os capítulos 11 a 16 (que, por sinal, não constam da Edição Pastoral, mas estão presentes na versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo), passagens que não se encontram em quaisquer das cópias em hebraico deste livro, mas apenas em cópias em grego. O livro de Ester foi o mais disputado entre os judeus para ser reconhecido como inspirado, já que foi um livro escrito no exílio e onde não consta o nome de Deus, mas Josefo o reconhece como sendo inspirado, assim como Filo. Esta disputa, talvez, seja a causa de não terem sido encontrados manuscritos do livro de Ester na coleção do Mar Morto. Ambos os acréscimos, entretanto, correspondem a um suposto sonho que teria tido Mardoqueu, que o texto acrescido coloca como tendo sido um dos exilados na primeira leva de nobres trazidos a Babilônia, ainda por Nabucodonosor, dado que é improvável, já que Assuero é identificado como sendo Xerxes I, que foi o sucessor de Dario I (486-465aC). A alegação deste acréscimo faz de Mardoqueu contemporâneo de Daniel e Daniel não ultrapassou o reinado de Ciro (Dn.6:28), que durou até 530 aC., de sorte que seria muito improvável que Mardoqueu estivesse em idade compatível para realizar tudo o que se diz dele no livro de Ester se estas informações acrescidas fossem corretas. Ademais, nos dois acréscimos há a menção do nome de Deus (Et.1:1-h,1-l; 10:3-a, 3-f, 3-g, 3-i, 3-j), o que não ocorre no restante do livro e, como este foi um dos motivos de controvérsia que surgiram para o reconhecimento da inspiração do livro de Ester, naturalmente que se houvesse segurança quanto a estes acréscimos, este debate não teria tido qualquer razão de ser. Como se não bastasse, o próprio término do capítulo 10 apresenta uma "autenticação" da veracidade do restante do acréscimo (Et.10:3-l), algo que demonstra que o texto não era mesmo aceito como inspirado.
ìACRÉSCIMOS AO LIVRO DE DANIEL - O Concílio de Trento, também, reconheceu como inspirados três acréscimos ao livro do profeta Daniel, que compuseram um acréscimo ao capítulo 3 (a partir do versículo 24 até o 90, quando, então, retoma-se o texto inspirado, que vai até o versículo 100, correspondendo aos versículos 24 até 30 de nossas Bíblias) e os seus capítulos 13 e 14 na Bíblia católico-romana, referentes aos "cânticos dos três jovens" e duas histórias intituladas , "história de Susana" e "Bel e o dragão", textos que somente existem em grego e que jamais foram reconhecidos pelos judeus como inspirados. Vejamos cada acréscimo separadamente:
O cântico dos jovens teria sido um louvor entoado pelos amigos de Daniel na fornalha de fogo ardente. O texto bíblico inspirado não diz que os jovens louvaram a Deus na fornalha, o que teria sido digno de nota, pois até explicaria porque o rei Nabucodonosor teria ido até a fornalha para ver os três jovens. A falta desta menção faz-nos entender que seja improvável que tivesse havido algum louvor como o narrado no texto acrescido. Mas o teor do suposto cântico já revela que seu texto não pode ser mesmo inspirado. Diz o texto que Azarias (ou seja, Abedenego e a circunstância de ser relatado seu nome hebraico destoa da narrativa, pois, no texto inspirado, neste episódio, só são indicados os nomes babilônicos dos amigos de Daniel), em seu louvor, teria chamado o rei Nabucodonosor de "…injusto e o mais malvado de toda a terra…" (Dn.3:32, parte final, na numeração da Bíblia católico-romana). Como poderia Abedenego assim se dirigir ao rei Nabucodonosor, a quem servia e de quem era um dos principais assessores(Cf.Dn.2:49) e, o que é mais intrigante, após ter reconhecido, com seus amigos, a autoridade humana do rei? (Cf.Dn.3:17,18). Seriam, então, estes homens uns hipócritas e fingidos? Naturalmente que não e, portanto, o texto acrescido contrasta com o restante do livro do profeta Daniel. Em Dn.3:49, é dito que …o Anjo do Senhor, porém, desceu na fornalha para perto de Azarias e seus companheiros. Tocou para fora da fornalha as labaredas de fogo e formou no meio da fornalha um vento úmido refrescante…". Ora, este texto conflita com o que se encontra em Dn.3:25 (nossa numeração, Dn.3:92 na numeração católica), que afirma que o rei viu os jovens andando dentro do fogo. Mas como havia fogo ali se as labaredas tinham sido postas para fora? E se as labaredas foram postas para fora, por que não se incendiou o palácio real? (verdade é que a tradução católica troca fogo por fornalha, neste texto, mas nem esta troca consegue explicar o que aconteceu com as labaredas postas para fora...).
ìCom relação aos outros dois acréscimos, de pronto vemos que o texto inspirado do profeta Daniel foi devidamente encerrado no capítulo 12, inclusive com ordem para que se selassem as palavras ali contidas (Dn.12:9). Além do mais, a estrutura do livro do profeta contém uma parte histórica, que se esgotou no livro 6, sobrevindo a parte profética. Assim, os acréscimos deveriam, pelo menos, para guardar a estrutura do livro, serem interpolados entre o capítulo 6 e o 7. A história de Suzana narra uma suposta intervenção de Daniel num julgamento injusto contra Suzana, que teria sido condenada à morte sob acusação falsa de dois homens que queriam cometer adultério com ela. Aqui há erros históricos, pois retrata Daniel como um jovem que vivia no meio do povo judeu cativo (Dn.13:44), mas, como sabemos, desde tenra idade, Daniel viveu no palácio do rei de Babilônia, portanto fora da comunidade judaica (Cf. Dn.1:3,4). É dito também que foi prestigiado por Nabucodonosor após o término da preparação e, a partir de então, é que teve prestígio junto aos demais judeus (Dn.1:19-21). Além do mais, a expressão supostamente utilizada por Daniel às testemunhas que estavam mentindo, a saber, "…o anjo de Deus já recebeu ordem de arrebentá-lo ao meio…" (Dn.13:55b) ou "…o anjo de Deus está esperando para cortá-lo ao meio e acabar com os dois…" (Dn.13:59b), além de serem contraditórias, foram desmentidas pelos fatos, segundo a história, pois a narrativa diz que as referidas testemunhas foram condenados à morte, pois "…fizeram com eles o que queriam fazer com Susana, de acordo com a lei de Moisés…" (Dn.13:62). Então, vemos que Daniel teria mentido ao afirmar que o anjo de Deus iria executar as falsas testemunhas, pois elas acabaram sendo mortas por homens mesmo. Como, então, confiar num texto que coloca Daniel como um falso profeta (Cf.Dt.18:22), um homem que a Bíblia diz que é um dos mais justos que houve sobre a Terra (Cf.Ez.14:14)?
ìO terceiro acréscimo diz respeito à história de "Bel e o dragão", que está no capítulo 14 do livro de Daniel da Bíblia católico-romana. Começa o texto com uma incongruência histórica, pois Heródoto, o grande historiador grego (conhecido como o "pai da história"), afirma que Ciro derrubou seu avô Astíages (Dario, o medo, na linguagem bíblica), que o perseguira desde a mais tenra infância. Portanto, como Daniel poderia ser "…companheiro do rei (Ciro, observação nossa) e o mais íntimo de seus amigos…" (Cf. Dn.14:1), se era pessoa da mais estrita confiança do rei Dario (Cf.Dn.6:3, 6:28)? Como se não bastasse, na história, é dito que os babilônios obrigaram o rei Ciro a entregar Daniel para ser morto sob ameaça de que matariam o rei e toda sua família.(Dn.14:29,30) Ora, como crer que o rei da Pérsia poderia ser derrubado pelos babilônios, que haviam sido vencidos há anos pelos persas e pelos medas, tendo sido subjugados ? Seria um caso único de ameaça popular de um povo vencido contra um monarca do povo vencedor. Ademais, se isto tivesse acontecido, estaria invalidada a interpretação que Daniel deu ao rei Nabucodonosor a respeito da grande estátua (Dn.2:28-47), pois o império medo-persa foi o que sucedeu ao império babilônico (o peito e os braços de prata do sonho real) e teríamos aqui um caso em que os babilônios continuavam mandando, apesar de vencidos pelos persas. Como se verifica, mais um absurdo ! Por fim, relata-se uma segunda ida de Daniel até a cova dos leões (Dn.14:31), onde teria sido alimentado por comida trazida de um certo profeta Habacuque, que morava na Judéia (Dn.14:33-39). Mas como dizer que havia profetas na Judéia neste período após a destruição de Jerusalém?
ìPor todos estes motivos, não podemos, mesmo, aceitar que os livros deuterocanônicos sejam inspirados, ainda que muitos escritores católicos esforcem-se para provar-lhes a autenticidade. Uma das principais objeções que os católicos fazem às refutações dos protestantes é a que procura mostrar que Jesus jamais citou os textos dos livros deuterocanônicos em Seu ministério, argumento, aliás, que nós não utilizamos neste comentário. Com efeito, a citação, ou não, por Jesus ou pelos apóstolos de algum texto não inspirado não tem o condão de fazer com que o texto seja, ou não, considerado inspirado. Os católicos romanos gostam de apresentar uma lista de supostas citações dos livros deuterocanônicos no Novo Testamento para afirmar sua autenticidade, mas, se é assim, por que também não incluíram no seu cânon o livro de Enoque ou o livro de Assunção de Moisés, que são citados pelo apóstolo Judas em sua epístola? Ademais, alguns livros do Antigo Testamento não são citados no Novo Testamento (Ester, Eclesiastes, Cantares, Esdras, Neemias, Obadias, Naum, Sofonias). O certo é que a inclusão na Igreja Romana destes livros se deveu a uma decisão datada de 8 de abril de 1546, no Concílio de Trento, em uma reunião onde estavam presentes menos de cinqüenta bispos e cardeais, numa decisão, ademais, que não foi unânime. Uma simples olhada nos livros incluídos, como fizemos supra, entendemos seja suficiente para espancar qualquer dúvida de que não são textos inspirados.
É oportuno observar, também, que o cânon romano discrepa da versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, que algumas publicações católico-romanas insistem em dizer ter sido a base de seu cânon. Com efeito, a Septuaginta tem, ainda, outros livros que não foram incluídos pela Igreja Romana, a saber, I e II Esdras e a Oração de Manassés, que constam do cânon da Igreja Ortodoxa, mas não da Igreja Romana. Há, ainda, outros livros que são lidos e fazem parte integrante de cânones de outras igrejas orientais menores, notadamente o cânon da Igreja Etíope, que abarca um grande número de livros apócrifos(como o livro de Enoque, v.g.).

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